CAFJEC

 Centro de Acolhimento e Formação de Jovens em Caminhada

 


 

CAFJECFoto

No dia de 17 Janeiro de 1988, na Faculdade de Filosofia, realizou-se uma reunião em que estiveram presentes os jovens da Equipa Diocesana e a maioria dos Animadores dos Grupos. O ponto único de agenda era o projecto de lançarmos mãos à construção de uma casa que pudesse ser a “nossa” casa, onde realizaríamos as acções de formação para os jovens do Movimento e onde, simultaneamente,

pudéssemos acolher jovens carenciados, sem abrigo e em alto risco.
De facto, o trabalho até então realizado com os jovens dos quatro cantos da Diocese tinha-nos colocado perante situações dramáticas de jovens abandonados, sujos e esfomeados que frequentemente nos pediam ajuda. E, porque jovens cristãos, não podíamos ficar indiferentes, mas antes devíamos ser, para eles, sinal libertador do Reino.
Este projecto foi acolhido entusiasticamente por todos, e a partir deste momento os grupos de Jovens em Caminhada começaram a sentir-se mobilizados. E foi bonito ver a enorme diversidade de iniciativas que os Grupos começaram a levar a cabo, com a finalidade de angariar dinheiro para que este sonho se transformasse em realidade.
O P. Costa Pinto informou o senhor Arcebispo deste projecto que foi por ele acolhido com palavras de carinho e estímulo. Em seguida, falou com o Senhor Presidente da Câmara, Eng. Mesquita Machado, que igualmente acolheu o nosso projecto com entusiasmo e, de imediato, ofereceu a antiga “Casa da Roda” para, se assim quiséssemos, ser o lugar onde poderíamos concretizar o nosso sonho.
Visitámos a Casa que estava em ruínas, mas que pelo espaço e pela situação, no Centro da Cidade, logo nos pareceu irrecusável.
A primeira fase das obras começou a 2 de Janeiro de 1990. Para esta fase, tivemos o contributo do Instituto de Juventude e da Companhia de Jesus, para além do contributo dos nossos grupos e de Benfeitores, de todo o Portugal, muitos deles desconhecidos de nós, mas que estavam unidos ao nosso projecto em prol dos mais desfavorecidos.
Para a 2ª fase, já tivemos a comparticipação da Segurança Social, em 65% dos custos. E foi, sem dúvida, uma comparticipação muito importante. Esta fase arrancou em 1993 e terminou em Janeiro de 1994. O nosso sonho estava realizado, com a bênção de Deus e a generosidade de muitos.
A inauguração teve lugar a 19 de Fevereiro de 1994 e dela damos conhecimento com o relato publicado na nossa Revista Jovens em Caminhada, de Março desse mesmo ano.
O espírito que orienta o C.A.F.J.E.C. está patente nas palavras que a Lena dirigiu a todos os presentes, na sessão de inauguração e que transcrevemos pelo alto significado que encerram e que são, para todos, como que um “programa” de acção.
Também apresentamos um relatório-síntese dos acolhidos até Agosto de 2005. Por fim, transcrevemos alguns testemunhos de jovens acolhidos no C.A.F.J.E.C. que servem, para todos, de estímulo e de acção de graças a Deus.
Quando a 17 Janeiro de 1988 lançámos à terra a semente deste grande projecto, morava em cada um de nós esta certeza: “se não for o ~enhor a construir a casa em vão trabalham os que a constroem” Salmo 126,1). Esta certeza foi-nos acompanhado ao longo destes ~nos e, por isso, a colocámos no cabeçalho de cada folha informativa .¡ue periodicamente publicámos, dando conta das ofertas que íamos ccebendo e das iniciativas que se iam realizando, em diversos pontos .to nosso Distrito, para angariação de fundos.
Hoje, dia em que sonho que acalentámos se torna realidade, a ninha primeira palavra é de louvor e agradecimento a Deus, ao Deus Fiel que nos acompanhou em todos os momentos e que uma vez mais »e manifestou como o Grande Construtor de toda a obra autenticamente humana.
A segunda palavra é para todos e cada um de vós, aqui presentes e para tantos e tantos que, desde Bragança a Macau se identificaram com este projecto e para ele contribuíram com as suas ofertas. Permiti que, por dever de justiça e gratidão, aqui retira alguns. Nos primeiros passos deste projecto estiveram dois nossos Amigos” o Senhor Arcebispo que acolheu o nosso sonho com palavras estimulantes e o Senhor Presidente da Câmara de Braga que, sensibilizado pelo nosso projecto a favor dos mais carenciados e esprotegidos, nos cedeu generosamente este magnífico edifício, então a ameaçar a ruína, e isponibilizou os Serviços Técnicos da Câmara para a feitura do projecto e acompanhamento e fiscalização da obra, na pessoa do Senhor Arquitecto Mário Louro e do Senhor Engenheiro Nuno Lopes.
Outras duas entidades que contribuíram com subsídios significativos para a l” fase da construção foram o Instituto de Juventude- com 4.500 contos- e a Companhia de Jesus, tanto pela mão do próprio Superior Geral, como por meio da Província Portuguesa e da Comunidade da Faculdade de Filosofia, e cujo o montante ascendeu a mais de 7.000 contos. Para a 2ª fase de construção foi determinante o apoio que obtivemos do Centro Regional da Segurança Social de Braga que comparticipou com 65% do custo global. Sem tal comparticipação, dificilmente poderíamos ter elevado a cabo este projecto. Além disso, ainda esperamos receber um subsídio confortável do Fundo de Socorro Social, já por nós solicitado e com parecer favorável deste Centro Regional.
Queria ainda destacar o contributo de alguns benfeitores amigos, presentes aqui no nosso meio, cada um dos quais ofereceram algumas centenas de contos. Se os não nomeio é porque eles mesmo fizeram questão de permanecer no anonimato, de acordo com o preceito do Senhor Jesus” ” não saiba a tua mão direita o que faz a esquerda”.
Além destes benfeitores, houve uma multidão quase incontável de pessoas – muitas delas totalmente desconhecidas – que, do Alto Minho ao Algarve e do Funchal a Macau, nos enviaram as suas ofertas juntamente com palavras carregadas de carinho e estímulo. Não posso deixar de citar alguma delas pelo alto significado que encerram de solidariedade e amor: ” Sou uma velha de 73 anos e viúva, mas quero contribuir para a construção dessa obra de tão grande alcance”; ” É gratificante poder contribuir, ainda que com um valor insignificante, para uma obra deste género. Bem haja e que consiga realizar todos os seus sonho ‘”
s , “Peço que me inclua no número dos vossos amigos pois só tenho pena de não poder dar mais. Tenho 77 anos e vivo com a minha esposa duma pensão de 23.000$”; ” a obra que pensam realizar é inspirada por Deus. Como eu e a minha mulher já não estamos em idade de ajudar de outra forma, junto envio 10.000$. É pouco, mas a minha reforma, único rendimento familiar, não dá para mais , “Soube do projecto que querem levar a cabo para acolher jovens desamparados. Estou a residir neste Lar de N.ª S.ª da Caridade e sou deficiente, ando numa cadeira de rodas. Mas quero oferecer 1.000$ para essa obra tão meritória e também uma minha companheira que é individual oferece 500$”; Quero ajudar a vossa obra com uma pequenita oferta de 5.000$ e faço votos para que Deus vos ajude. Não posso dizer quem sou, pois se o meu marido soubesse que dei esta oferta, talvez fosse caso de separação. Mas o importante é que Deus sabe quem sou”. A beleza destas palavras e a nobreza de sentimentos que espelham falam por si!
Uma palavra muito especial vai para todos os Jovens em Caminhada, espalhados por dezenas de grupos, neste nosso Distrito e Arquidiocese. A generosidade sacrificada e a disponibilidade alegre com que realizaram acções tão diversificadas para angariação de fundos- desde tômbolas ao cantar dos Reis- simbolizavam e realizavam o cuidar carinhoso desta semente lançada à terra e a que Deus ia dando incremento. Foram tantas horas ao sol ou à chuva, tiradas ao descanso merecido ou ao divertimento legítimo, foram
caseiras e preocupações, foi suor e renúncia! Hoje, com alegria profunda, podemos afirmar: valeu a pena!
Para todos sem excepção vai esta palavra agradecida que quero que se transforme em abraço fraterno e amigo de profunda gratidão.
Pelo que acabei de dizer, ressalta claro como todo este nosso projecto está marcado pela solidariedade humana e cristã. E esta solidariedade realizou o “milagre” de conseguirmos os mais de sessenta mil contos que se gastaram com as obras de construção.
Agora, continuamos a contar com a solidariedade de todos para conseguirmos o que necessitamos para o equipamento e que estimamos em cerca de dez mil contos.
Concluída a construção de pedra, o Centro de Acolhimento e formação Jovens em Caminhada (CAFJEC) estará daqui em diante ao serviço apaixonante da tarefa da construção do homem e do humano, nas suas quatro valências fundamentais: a) atendimento de jovens com ,problemas e que desejam pedir orientação, conselho ou ajuda; b) acolhimento de jovens marginalizados ou em alto risco, carenciados ,ou desprotegidos que encontrarão no CAFJEC uma família que os abra à vida e à esperança e os ajude à reinserção social; c) formação integral dos jovens, mediante a realização de diversas acções de formação; d) por fim, entrará em funcionamento, não já de imediato mas proximamente, o “Telefone da Esperança” a que poderão recorrer pessoas com situação existencial desesperada ou dramática e para puem, tantas vezes, a única perspectiva que se lhes afigura é o suicídio.
Para todas estas tarefas, contaremos com um corpo fixo, de pessoas pagas e de acordo com o protocolo que assinaremos com o Centro Regional de Segurança Social. Mas contaremos igualmente oro um numeroso corpo de voluntários jovens e adultos – a quem daremos formação adequada e que serão o gesto visível da solidaricdade feita serviço por amor aos mais desfavorecidos.
Para além das valências acima referidas, o CAFJEC estará aberto a todos os desafios que as mudanças sociais e culturais nos lancem no futuro. Por isso, será uma estrutura aberta e dinâmica em que apenas uma realidade permanecerá inalterável: o amor com que queremos marcar todos quantos por aqui passarem.
Estamos conscientes das dificuldades que vamos sentir e das responsabilidades que assumimos. Sabemos que a construção que hoje iniciamos- construção do homem- é muito mais difícil do que a construção que hoje acabamos- a construção do edifício. Mas sabemos também que o Senhor continuará a ser o grande construtor desta obra e, aliados com Ele, queremos colocar ao serviço dos homens aquelas qualidades juvenis que o Papa João Paulo II referiu na mensagem que dirigiu aos jovens Portugueses na Eucaristia do Parque Eduardo VII, em 14 Maio de 1982, aquando da sua primeira visita apostólica a Portugal: “alegria, esperança, transparência, audácia, criatividade, idealismo”.
Continuamos a contar com todos vós, aqui presentes, e com todos os amigos e benfeitores que ao longo destes anos estiveram connosco. Queremos dizer-vos que os Jovens em Caminhada estão hoje muito felizes e queremos partilhar convosco esta felicidade.
Passados quase cem anos, este edifício recupera a função de solidariedade social que o marcou e que lhe fez mudar o nome de “Casa dos Paivas” para “Casa da Roda”. Em 1887, a Câmara Municipal de Braga alugou este edifício para hospício dos Expostos, acolhendo, durante alguns anos, crianças abandonadas. Cem anos depois, e com a nova denominação de CAFJEC- Centro de Acolhimento e Formação Jovens em Caminhada- recomeça a ser lugar de acolhimento para jovens abandonados e marginalizados.
Braga está de parabéns! Estamos todos de parabéns!
(Maria Helena Jacinto Sarmento Pereira)